Nampula (IKWELI) – Patrício Luís, que é um Pequeno Agricultor Comercial Emergente (PACE), no distrito de Malema, localidade de Chuhulo, denuncia a concorrência desleal por parte de comerciantes de nacionalidade Bengali que, segundo conta, inviabilizam o escoamento de produtos e a rentabilidade da produção local.
Patrício é proprietário de um armazém com capacidade para 220 toneladas, construído com apoio do governo distrital, e garante que o seu objetivo é armazenar colheitas em épocas de abundância, permitindo vendê-las à comunidade apenas em períodos de escassez, como forma de prevenir crises alimentares.
No momento, o produtor guarda 37 toneladas de milho e 30 sacos de soja (cerca de 1,5 toneladas), reservados “exclusivamente” para venda à população de Chuhulo a partir de Janeiro, quando a falta de comida se torna mais crítica.
Falando ao Ikweli, o agricultor assegurou que o seu compromisso é garantir que a comunidade tenha acesso a alimentos em tempos de crise, e não apenas focar-se no lucro imediato. “Do momento eu tenho este milho, uma quantidade de 37 toneladas e também tenho 30 sacos de soja que corresponde a uma tonelada e meia. Esse milho é para vender à comunidade, não vou vender agora porque se fizer isso, há-de chegar aquele tempo de crise e falta de comida, então tenho que conservar o produto até o mês de janeiro para assegurar a comunidade,” explicou.
Entretanto, Patrício denuncia que a concorrência estrangeira, sobretudo de Bengalês, ameaça sobremaneira, não só o seu sustento, mas também a segurança alimentar da região. Pelo que contou, nos últimos anos, comerciantes estrangeiros têm se instalado em zonas agrícolas estratégicas da região, especialmente em localidades mais remotas, onde montam bases próprias para compra directa da produção no campo.
“Em relação a esses bengaleses, o que estão a fazer não estamos a gostar, e não sou só eu. Posso dizer que quase todo Chuhulo e todo o distrito de Malema reclama deles. Eles não ficam na vila para comprar dos produtores, vão directamente até lá nos confins, principalmente em Maruacha, e montam bases lá,” lamentou.
Essa prática, segundo ele, quebra a lógica e regras do mercado local, reduz a margem de lucro e, muitas vezes, deixa os agricultores sem condições de escoar a produção para outros compradores. Igualmente, ao comprar directamente no campo, eles pressionam aos produtores locais a aceitar valores muito inferiores do que o que teriam se escoassem para a Vila.
“Assim, quando levamos os produtos para vender na vila, eles oferecem preços muito abaixo do acordado, muitas vezes não temos escolha, se não aceitar, porque é caro regressar com várias toneladas para casa.”
Não obstante ao facto de comerciantes estrangeiros estabelecerem as suas bases nos campos, aquele produtor referiu, igualmente, que vezes há em que eles solicitam certa quantidade de produtos e a um certo preço, mas quando os produtores chegam a vila com os produtos solicitados, aqueles comerciantes recusam-se a honrar com o compromisso e, condicionam a compra deles a preços baixos.
Desta feita, Patrício, à semelhança de outros produtores, pede a intervenção governamental, de modo a estabelecer políticas claras e adequadas para proteger os pequenos e médios produtores daquela região da concorrência externa, de modo a garantir que iniciativas locais como o armazém de Patrício, continuem a cumprir o sei papel no combate à fome assim como na maximização da economia rural.
“Estamos a pedir ao governo para verificar essa situação. O Bangladesh não é para nos aproveitar ao excesso,” apelou.
Essa reclamação chega numa altura em que o governo, através do Secretário de Estado do Comércio, António Grispos, anunciou em Julho passado, a interdição de comerciantes estrangeiros no mercado rural, medida a vigorar a partir de Janeiro de 2026. (Isidora Fernando)
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Malema: Agricultor denuncia inviabilização de actividade comercial por estrangeiros
agosto 15, 2025
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